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sábado, 23 de janeiro de 2010

O desafio de andar de ônibus em Aracaju

A Capital de Sergipe está em pleno crescimento. A população flutuante então, nem se fala! São centenas de milhares de pessoas que saem dos municípios circunvizinhos para trabalhar em Aracaju. A população que é de  mais de 500 mil pessoas deve chegar a quase 800 mil. E me digam vocês se 500 míseros ônibus conseguem dar conta desse povo todo?

Pegar ônibus em Aracaju todos os dias é uma coisa difícil de relatar. Só quem faz isso sabe do que estou falando. Tá certo que o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, prometeu (e cumpriu) entregar 100 novos ônibus. Isso significa que 20% da frota foi renovada. Mas devo dizer que só melhorou o estado dos ônibus. A superlotação permanece. Os que foram retirados eram tão velhos que deveriam estar expostos como peças de museu.


Bem, mas não foi para falar do sistema de transporte aracajuano que eu resolvi escrever esse textículo (sem trocadilhos, mentes poluídas!). Foi pra falar dos usuários desse bendito meio de locomoção e de seus condutores. Me incluam na primeira categoria.

Alguém aí já pegou ônibus em algum dos terminais de integração de Aracaju, São Cristóvão ou Socorro? Caso tenham pego saberão, com certeza, o que irei relatar nas próximas linhas.

Imaginem um rebanho de búfalos selvagens  presos no pasto. Imaginaram? Agora imaginem quando uma cancela é aberta e esse rebanho sai com todos os búfalos correndo como loucos desenfreados para passarem ao mesmo tempo pelo mesmo local. É, assim mesmo, sem pausa para respirar. É isso que acontece quando as portas traseiras destes ditos veículos de transporte coletivo se abrem. Quem está nos terminais não espera quem está dentro dos ônibus descer para, assim, conseguir subir e quem está descendo (logo atrás dos primeiros desavidados que intentam sair) sai empurrando. Eu mesmo já passei por alguns maus bocados com esse pessoal. Sempre fico atônita sem saber pra qual porta me dirijo. E o pior é que quem está empurrando para subir nem vai conseguir um lugarzinho para ir sentado apreciando a paisagem urbana.


Outra coisa peculiar é o modo de condução dos ônibus. Os motoristas, desconfio, devem fazer curso numa mesma escola para aprender como conduzir pessoas. Sim. Eles possuem um método singular de condução. Treinam passo a passo o que deve ser feito numa curva acentuada quando o veículo estiver cheio de gente. Essa é uma experiência que recomendo a todos! Semelhante a um esporte radical, é uma das maiores emoções que passarão em suas vidas!

Você está lá, em pé, segurando com as duas mãos numa das barras de ferro (os seguradores dos assentos já estão todos preenchidos por mãos que parecem sair de todos os cantos) e a curva se aproxima. Nessa hora você se tornará o mais exímio dançarino de pole dance, conseguirá dar uma volta inteira na barra e... irá sentar no colo de outro passageiro. Para isso não precisa treinar. Acontece invariavelmente. Eu já perdi a conta (e a vergonha) de quantas vezes aconteceu comigo. Agora, procuro sempre ficar perto de uma passageiro sentado que pelo menos valha a pena sentar no colo.

Bem, esses problemas, com certeza o prefeito nao conseguirá resolver. Educação no transporte coletivo não é coisa que se aprenda na escola. Vem do bom senso de cada um. Ele pode amenizar com atitude como esta, de renovar e aumentar a frota de veículos do transporte público. Quanto aos motoristas, estes devem passar por diversos cursos de capacitação oferecidos pelas empresas para que conscientizem e humanizem seus profissionais. Esse problema somente os empresários do transporte coletivo poderá resolver.

Quanto à difícil tarefa de subir e descer dos ônibus... Bem, a gente reza e torce para que nada aconteça e consiga chegar ao destino sem nenhum arranhão.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Ida ao shopping

Resolvi dar uma voltinha no shopping. Não encontrei nada. Nem para comprar, nem para olhar. Sem ter o que fazer, fui à praça de alimentação. Aí sim, pude perceber algumas coisas interessantes.

Todo homem bonito levava um apetrecho (um chaveirinho - aparentemente sem nenhum Ford Fusion acompanhando - , uma pochete, às vezes era uma mala, dessas sem alça mesmo, porque pela cara já dava para sacar) do lado.

Também tinha muita mulher sozinha. Quer dizer, solteira. Estavam em bandos. Gente, eu tenho mais de 30 anos - não digo quanto mais nem sob tortura - e paquerar é bom, né? Se rolar, rolou. Depois cada um para o seu lado. Mas o que vi hoje no shopping me deu um desespero!

Mulheres visivelmente com mais de 30 anos, em bandos e quando viam um homem sozinho, todas olhavam ao mesmo tempo. Era perceptível o sinal enviado: "Procura-se um namorado desesperadamente!". Com aquelas caras não iriam encontrar nunca.

Eu estava sozinha também. Sozinha. Não em bando, nem buscando encontrar um namorado. Peguei um choppinho, alguma coisa pra beliscar enquanto bebia. Saquei a caneta e o papel da bolsa e escrevi esse pequeno texto com minhas impressões. Na mesa ao lado sentou um carinha. Deve ter uns 25 anos, é gatinho e está puxando papo.

As desesperadas em bando estão duas mesas atrás da minha se roendo de inveja. Agora deixa eu ir que o papo parece que vai render...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Preguiça ou tudoaomemotempoagora?

Não estava escrevendo por preguiça. Pura preguiça.

Geralmente fico acordada até tarde. E acaba que tenho muita dificuldade em levantar pela manhã. Mas isso não é um problema da vida adulta. Vem de berço. Nasci com o relógio biológico trocado.

Ok, o que isso tem haver com a minha preguiça? Bem, como eu tenho prguiça de acordar pela manhã, acordo sempre em cima da hora de ir para a faculdade ou para o trabalho, digo, estágio, ou até mesmo para algum compromisso marcado. Daí o restante do dia fica comprometido com os afazeres diários.

Outro motivo de ter preguiça é que já escrevo no estágio. Gosto pacas do que faço, me sinto estimulada e as pessoas que estão ao meu lado são per-fei-tas. Sem querer puxar o saco, porque não ganho para isso.

Na verdade, o valor que eu recebo pelo estágio é bem baixo. Mas o aprendizado em troca é o valor elevado à enésima potência. Sem exageros.

Mas voltei a escrever. Não posso dizer se manterei uma frequência. Pelo menos eu tentarei manter.
Hoje mesmo, eu nem esperava escrever a respeito dessa preguiça. Estou curtindo uma raiva aqui. Ouvindo umas músicas dor de cotovelo e me perguntando porque cedi aos desejos de minha mãe. Ela ficou feliz e eu estou completamente infeliz.

A essa hora eu devia estar na balada com uns amigos massa e pegando outros gatinhos massa.
Mas não deu. E não vou dizer os motivos porque não quero torrar a paciência de ninguém aqui com meus problemas.

Vou é abrir mais uma latinha de Brahma (não é propaganda, é porque eu gosto mesmo) e continuar a escrever sobre a minha preguiça.

Então, como eu estava contando, os afazeres diários terminam e eu  estudo.

Gente, dar conta de casa, trabalho, faculdade e pesquisa científica não é mole! É mais ou menos assim: você imagina o que tem de fazer em casa e lembra de uma coisa que tem que fazer no estágio que tem haver com o assunto que o professor está passando e daí já tenta fazer uma relação. Pronto! Lá se foram metade de suas energias matutinas em apenas 15 minutos de pensamento. Dá fome, mas o tempo para comer é  escasso.

Pego o ônibus e saio. Pessoas, o que cansa não é pegar o ônibus, porque até daria para ir lendo o texto atrasado dentro dele se eu fosse sentada. O problema é ir em pé num percurso de uma hora, com baldeação nos terminais( duas baldeações).

Nessa hora eu tento lembrar do que deveria ter lido para a pesquisa científica. Já vou logo dizendo que formular hipoteses sobre a ciência e seus paradigmas dentro de um  espaço com cerca de cem pessoas  em pé é impossível. Mas eu tento. Juro que eu tento!

Depois disso eu já cansei pelo dia inteiro. E não são nem dez da manhã. Chego em casa às oito da noite. Vou dormir meia noite.

Quem está lendo teria algum tempo para escrever para o próprio blog?

Pois é, se tiver, me dá a fórmula, porque eu, sinceramente, tenho preguiça.

Minhas válvulas de escape são os encontros esporádicos com amigos. Afinal, eu não sou de ferro e preciso socializar. Despois disso volto para casa e para a rotina.

Gente, só de pensar, agradeço a Deus porque esse final de semana será um feriadão.

Até a próxima!

domingo, 4 de outubro de 2009

"O colonizado não é uno, ele é diverso"


Lendas, política, religião, Arqueologia, Antropologia. Tudo se mistura para o entendimento de um processo aparentemente simples como a colonização e o ato de povoar terras*

“O colonizado não é uno. Ele é diverso”.


Foi com essa frase que o Professor Antônio Lindvaldo de Sousa, que ministra as disciplinas História de Sergipe, História e Religiosidade, e da Pós-graduação em Ciências da Religião na Universidade Federal de Sergipe (UFS), marcou nossa entrevista. A partir daí tornou-se fácil entender a maneira como foi feita a colonização de Sergipe. De forma descontraída, ele nos explicou a presença e os motivos que trouxeram a Companhia de Jesus ao nosso Estado e as implicações do processo religioso e político do fato. Durante a entrevista, ele nos revela que outras personagens também são importantes no processo da colonização e mostra, de forma bastante didática, que entender e conviver com as diferenças é primordial não só na atualidade, mas também no passado. Exaltamos os caciques Serigy, Surubi e Aperipê como heróis porque morreram na chamada Guerra Justa. Lembramos também muito mais dos “fidalgos” portugueses. Mas a parte das Missões dos jesuítas no território sergipano fica sempre relegada ao plano de “história de menor importância”, sabendo-se muito pouco sobre o assunto.

Os participantes da Companhia de Jesus foram parte fundamental para o entendimento do que aconteceu no território sergipano entre os séculos XVI e XVIII. Os criadores de gado da Bahia e de Pernambuco precisavam de acesso entre si e Sergipe se situa exatamente entre os dois Estados. Além disso, a região era perigosa por causa dos índios que aqui estavam, já fugidos do processo civilizatório, da escravidão a que eram submetidos e da expansão da colonização das novas terras por Portugal. A Igreja Católica também passava por um momento de crise perdendo suas “ovelhas” para o rebanho dos protestantes de Calvino e Lutero e precisava de novas almas. Ajudando na colonização das novas terras, evitava o avanço do protestantismo nessa região. Em termos mais abrangentes, os jesuítas estão em nosso imaginário pelo que aprendemos nos livros didáticos escolares com a figura central de José de Anchieta escrevendo na areia. Nunca os vemos como colonizadores, mas como religiosos que buscavam infundir nos índios noções da religião de Portugal.

Em Pauta- Suas aulas são atrativas, os temas bastante bem explanados e você dá início à disciplina falando sempre da tolerância ao “outro”. Quem é esse “outro” e por que esse tema como início?


Antônio Lindvaldo – É um recurso metodológico que eu uso para que o aluno entenda que existe outra história sem ser aquela oficialmente contada. Para que se entenda essa outra história é preciso entender que existe “um outro”. E saber que ele tem sua própria história e não depende de alguém que chega para contá-la por ele. Por isso, também uso da Arqueologia para entender que esse outro tem uma história muito antes do presente. Quando se trata do século XVI a gente fala “existe os outros que habitavam aqui”, mas eles não podem ser entendidos apenas como a cultura tupinambá,de forma única, mas também como outros povos que aqui existiam.

EP- Qual a relação deste “outro” com a colonização de Sergipe?

AL- Pois é, com relação à colonização de Sergipe, por exemplo, eu uso os outros não só como os primeiros habitantes, os índios, mas como aqueles que são diferentes do modo de ser do índio também. Não podemos cair somente na perspectiva da atualidade de ver diferente o colonizador do colonizado. O colonizado não é uno, ele é diverso. Prefiro falar, então, em “outros”. Dessa forma, quem esta ouvindo entende que a diversidade do mundo, tanto no presente quanto no passado é grande. E nós, em pleno século XXI, temos de conviver com essa diversidade dos outros que são diferentes de nós.

EP- Quem eram os primeiros habitantes?

AL-Não tem uma comunidade indígena nativa diferenciada de Sergipe, Bahia, Pernambuco e Espírito Santo. O habitante que morava no litoral daqui, o tupinambá possuía um domínio de sul à norte de forma abrangente. Agora, as outras tribos indígenas eram menores e há estudos que mostram isso, mas não temos como apreciar a quantidade e diversidade de tribos que aqui existiam porque não temos documentação para tanto.

EP- Por que a ação dos jesuítas em Sergipe é pouco pesquisada, já que, assim como na Vila de São Vicente e em São Paulo, foi por meio deles que houve aceitação dos “brancos” pelos índios existentes nas novas terras?


AL-Na verdade, eles são vistos como alguém que tem um método diferente. Enquanto eles pregam o evangelho e a paz, o colonizador, o criador de gado, utiliza da violência, como aconteceu em 1590 com a chamada Guerra Justa. Como houve colonizadores antes dos jesuítas, os franceses, que contrabandeavam o pau Brasil no litoral sergipano e também um ou outro navegante passando pelo rio são Francisco já passou antes de 1575 e a ação dos jesuítas foi pacífica ficou mais fácil a aceitação.

EP- Desde quando se tem notícia dos jesuítas nas terras de Sergipe?

AL-A ocupação do solo, de fato, foi com os jesuítas em 1575. Eles têm o papel inicial de entrar em contato com os habitantes daqui. O trabalho dos jesuítas era conquistar a alma desses habitantes. Então, mesmo essa colonização sendo pacífica, foi colonização.

EP- Como e porque eles chegaram aqui?

AL-Eles vieram por terra pelo interior da Bahia e já possuíam contatos em Itapicuru, perto de Sergipe. A motivação para o deslocamento da sede da capitania da Bahia, eu diria que tem haver com o mundo em transformação da Igreja e os jesuítas eram porta vozes dos tempos difíceis da Igreja Católica e defendiam interesses da Igreja e, ao mesmo tempo, dos interesses do próprio governador Luís de Brito. Eles foram facilitadores da colonização, tanto que ao lado do padre jesuíta Gaspar Lourenço, vieram um capitão e soldados.

EP- De que maneira eles foram registrados pela historiografia sergipana?


AL-A documentação que nós temos, e que é extremamente importante, é a Carta de Toloza. Um padre jesuíta. Essa carta foi citada em nota de rodapé por Felisbelo Freire. Ela nos permite enxergar meandros, aspectos dos atos dos jesuítas construindo igrejas, promovendo a religiosidade no cotidiano dos índios. Mas não há uma abordagem, um livro específico na documentação sergipana sobre os jesuítas.

EP- A cultura dos índios e a dos brancos são bastante diferentes. Como foi o processo de adaptação entre os dois povos?

AL-Ainda bem que você colocou brancos no plural, porque no processo existe o criador de gado, os soldados, o governo luso-baiano e os próprios jesuítas. Depois aparecem os carmelitas e os capuchinhos. Há uma diferença muito grande nas culturas. Cada um tem processos diferentes de encarar a natureza, de se alimentar, de trabalhar, etc. Alguns historiadores chamam isso de choque cultural, mas além disso, o tupinambá estava num estágio menos desenvolvido de cultura material do que os outros povos, nesse choque, eles saíram perdendo porque na cultura indígena apesar de haver arco e flecha, não havia cavalos ou armas de fogo. Apesar de uma cultura não ser superior a outra, em termos materiais os brancos eram superiores.

EP- O primeiro padre jesuíta que aqui chegou foi mesmo o Padre Gaspar Lourenço?

AL-Nós podemos dizer que há visitas esporádicas antes de 1575 no território de Sergipe, mas colonização em termos de Missão somente a partir de Gaspar Lourenço e João Solônio, que era o companheiro dele.

EP- Porque ele foi escolhido para vir à Sergipe?

AL-Não foi escolhido a toa. Ele era um homem experiente em Missão. Já havia lidado com índios insatisfeitos com o avanço da colonização e, fundamentalmente, não podemos esquecer que ele era famoso por falar a língua dos índios.

EP- O fato dele ter sido discípulo de José de Anchieta influenciou na escolha?

AL-Se a gente for entender o universo da formação de Gaspar Lourenço, entenderemos quem ele foi e a instituição da qual ele fazia parte. Mas, além disso, precisamos entender quem foram os tutores dele, a escola em que ele estudou e o que ele defendia. José de Anchieta foi um dos tutores de Lourenço, ou seja, alguém que contribuiu para a formação de quem ele foi. Ter sido escolhido para vir à Sergipe num período de crise e com um conflito tênue entre criador de gado e Governo, mostra que ele era um homem corajoso e muito agarrado à sua formação.

EP- Até quando os jesuítas permaneceram em Sergipe? Por quê?


AL-Os jesuítas não foram vitoriosos na colonização de Sergipe no início, porque, se fossem, permaneceriam catequizando. Historicamente, o momento era muito favorável aos criadores de gado. Os representantes na Bahia estavam muito mais pressionados pelos criadores de gado do que pela Igreja. Ou seja, tudo estava a favor para que a colonização não fosse um processo paulatino e educativo como previam os jesuítas. O pensamento era “vamos logo ocupar a terra e escravizar os primeiros habitantes”. Para quê? Para criar o gado e facilitar o intercambio entre Pernambuco e Bahia.

EP- Um importante político de Sergipe do século XIX tornou conhecida uma frase que diz: “Ao evangelho e não às armas, à paz não à guerra, entregou-se à conquista da nossa capitania.” O que ele quis dizer com isso?

AL-O significado tem haver com a idéia de que o método utilizado pelos jesuítas utilizando a música, o teatro, as procissões, o catecismo e todos os rituais instituídos pela Igreja com o Concílio de Trento, nas reformas vividas naquele período, era diferente dos métodos que usam armas, pressão e exploração.

EP- O que era essa Missão que você falou antes?

AL-Quem mora no interior geralmente sabe o que é uma Santa Missão. Quando os padres chegam numa comunidade, toda ela pára para recebê-los. Daí tem a ladainha, os sinos badalando, a via sacra, etc. São missionários que chegam num lugar e querem transformá-lo dizendo que lá existem pecadores ou que está possuída pelo demônio. Esses padres não têm moradia fixa e tem como missão levar a fé a quem não tem acesso. No caso dos jesuítas, os padres vão transformar os índios num “bom cristão”. Se a gente pegar a Carta de Toloza está lá o estudo da ladainha dia e noite.

EP- É como um curso intensivo da religião?

AL- É mais ou menos. As Missões duravam de oito dias a três meses, dependo da Missão. O índio não entendia significados de pecado e de fogo do inferno, mas o conjunto de metáforas que aparecia, como o padre vestido com a batina, levantando a hóstia e o povo cantando. Tudo isso é pedagógico e fazia com que introjetasse no cotidiano dos índios esses rituais.

EP- Atualmente existem indícios dessas Missões nos locais onde elas eram instaladas?


AL- Não, infelizmente nós não temos porque elas eram construídas de pindoba [uma espécie de palha] e esse material com o tempo acaba. O que aconteceu foi que algumas missões viraram igrejas como a Missão de Geru, virou a cidade de Geru e hoje tem uma igreja belíssima. Em Itaporanga temos Tejupeba e em Laranjeiras, Retiro.

EP- Havia conflitos entre os índios e os habitantes que vieram morar na região?

AL-Havia conflitos no litoral. Com o passar do tempo,com a conquista do litoral, o interior continuou sendo o habitat dos índios. Tanto que temos índios até o século XVIII em Sergipe. Depois com a expansão do gado e da cana de açúcar na Cotinguiba, chegou no século XIX e o Governo dizia que não havia mais índios.

EP- Além dos jesuítas, quais outras figuras fazem parte da colonização de Sergipe?

AL-É um tema interessante porque alguns alunos trabalharam não só jesuítas e criadores de gado em suas monografias. Eu trouxe documentos de Portugal que mostram que houve também mamelucos, que eram homens sem dinheiro ou prestígio, mas por causa da “propaganda” dizendo que quem participasse da Guerra ganharia terras aqui, eles se aventuraram em busca de uma vida melhor. Infelizmente, com a liberdade, eles acabaram nas garras da Inquisição. Esses homens só queriam oportunidade, não queriam escravizar índios nem nada, mas casavam com as índias. Então também temos mais esse personagem.

EP- Agora vamos para um campo mais mítico. Eu já li e ouvi diversas histórias de tesouros deixados pelos padres jesuítas. Essas histórias são verdadeiras ou apenas lendas?

AL-São ficção. Em Jaboatão tem a história do tesouro escondido pelos jesuítas em túneis subterrâneos, mas são apenas lendas, tanto que até hoje não acharam. É muito interessante, porque você chega na cidade e não encontra marcos dos jesuítas, mas a marca mais forte é a da lenda.

EP- Porque elas surgiram?

AL-Não existe uma comunidade que não tenha lendas.Todo mundo vive com mitos, hoje, por exemplo, temos as novelas. O ser humano não cria só necessidades físicas de alimentação. Nós precisamos do imaginário. Isso faz parte da construção de uma comunidade. Mas se você me perguntar como surgiu essa lenda lá em Jaboatão, posso dizer que a partir da fantasia encontramos um eixo com a realidade. E o que é realidade? É a presença dos jesuítas que tinham Missões lá. Isso não é só em Jaboatão, mas falam que os jesuítas concluíram um túnel que sai lá em Penedo, em Laranjeiras ou em São Cristóvão também.

EP- O túnel é um tema recorrente quando se fala de jesuítas. Eles tinham o hábito de criar esses túneis?

AL-Na verdade, como havia muita invasão estrangeira de franceses, holandeses e ataques indígenas, as cidades, muitas delas, tinham escavações subterrâneas para fugir. Principalmente quando tem uma minoria branca e a maioria é indígena, negra e mestiços.

EP- E agora para terminar, uma brincadeira. Você é um historiador. E se considera um bom contador de histórias?

AL-Todos nós somos! [risos] Conto histórias no dia a dia, faz parte do bate papo informal. Conto história e estórias [mais risos]

EP- Qualquer pessoa pode ser historiador?

AL-Todos precisam da História. Qualquer pessoa pode se dedicar à História

* Essa entrevista foi postada originalmente no blog empautaufs.wordpress.com

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Crônica de um dia feliz

A empresa necessitava de 20 pessoas para o cargo de vigilante e possuía uma parceria com a Fundação Municipal do Trabalho (Fundat) que cadastra trabalhadores para recolocação no mercado de trabalho. Nem precisava ter experiência, bastava apresentar o certificado de conclusão do curso preparatório. O RH da empresa nem pensou, ligou para o Balcão de Intermediação de Mão de Obra da Fundação e solicitou que lhe fossem encaminhados os profissionais.

Já era terça-feira, o ano estava acabando e Ricardo de Jesus Reis, 31, pensava no que fazer. Desempregado há sete meses, estava já sem dinheiro e esperança de conseguir logo um trabalho e poder levar o alimento para casa. Experiência em vigilância ele tinha. Trabalhara seis anos numa firma conceituada e saíra porque alguns postos de trabalhos foram perdidos por causa da crise que estava acontecendo do outro lado do mundo.

Adaias da Silva Santos. Vinte e seis anos, nenhuma experiência na área de vigilância. Ficou sabendo do Balcão por um amigo que tinha sido contratado há um tempinho.

Valdemir Júnior Florêncio da Silva, um ano mais novo que Adaías, quando soube que a Prefeitura de Aracaju possuía um serviço de Intermediação do Trabalho levou seu currículo e deixou lá. Mas nem esperava ser chamado, ainda mais que fazia quatro meses que isso aconteceu.

Ontem, terça-feira, 29 de setembro, início de Primavera, os telefones dos três tocam logo pela manhã. Nesse momento, as vidas deles se interligam. Eles haviam sido selecionados no banco de dados da Fundat para a empresa de vigilância. Seus perfis passaram por uma triagem. Haviam sido aprovados.