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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sodoma ou tédio?

Recalcados, beatas, freiras, protestantes, assexuados, conservadores do meu Brasil varonil parem de arder na fogueira de suas entranhas mentais e dediquem-se a ler 120 Dias de Sodoma ou a Escola da Libertinagem. Um verdadeiro libelo contra a falsa moral vigente em nossa sociedade tacanha e sem o mínimo de imaginação. Marquês de Sade rompe com os limites do humor, da invenção e da consumação da carne. Tal qual um Aristóteles da luxúria, elabora um sistema de engenhosidade impressionante. Mas o que importa é a maestria com que é descrita cada cena. Sabores, cheiros, texturas irrompem cérebro adentro e o leitor sugado por um vórtice que beira o terror e o surreal é presenteado com uma experiência inesquecível. Isto numa época em que se louvava ainda as fantasias leves, a música suave e a vida melíflua dos abastados.
Niilismo. Ódio. Prazer ilimitado. O corpo e o sexo como veículos perfeitos sem a barreira da hipocrisia, do sintoma da paixão, da suposta pureza do amor, apenas máquinas perfeitas para um prazer que beira o inexplicável. Submissão. Bondage. Coprofagia. Spanking. Gerentofilia. Sufocação. Todas as combinações e variações possíveis que o isolamento pode fortalecer. Sem lei. Sem Deus. Sem Demônio. Apenas a fome luxuriosa imperando. Bestas sedentas, vorazes pelo melhor do pior. Amputação. Acrotomofilia. Submissão. Cloacas perfeitas para experiências mais do que nauseabundas e fascinantes.
Paro por aqui este pequeno louvor ao mestre Sade. Pois arrepios animalescos percorrem a carne quase morta. Rastejo ao meu leito fétido, duro e estreito e tento esquecer de mais um dia.

Fúria.

2 comentários:

Elaine Mesoli disse...

O que dizer?
Leitura é sempre um prazer e nesse caso seria um prazer físico.

Anônimo disse...

*risinho malicioso*

Fúria é o cara, brother...

leprosina boa de prosa